Personagens e suas Cores

Marcelo Hagemann Dos Santos
33 min readMar 14, 2020

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Arte oficial de Kurahana Chinatsu, responsável pelo design dos personagens do jogo, também conhecida por Uta no☆Prince-sama.
Arte oficial de Kurahana Chinatsu, responsável pelo design dos personagens do jogo, também conhecida por Uta no☆Prince-sama.

De todos os elementos de uma obra áudio-visual, como é o caso dos animes, o design de personagem é provavelmente o que mais chama a atenção de seu público. Não apenas por ser um dos primeiros elementos (quando não o primeiro) a ser divulgado quando um novo projeto é anunciado como ele é protagonista de todo o marketing que antecede o lançamento, por exemplo, de uma série. Além disso, o design é uma das coisas que mais comunicam o tom de uma obra aos seus possíveis consumidores, basta olhar para o design dos personagens de um anime que rapidamente podemos dizer se se trata de comédia, romance, aventura, ação… além de nos dar uma ideia do tipo de cenário, do ambiente, em que a trama se coloca.

No começo desse ano, e dessa nova temporada de animes, surgiu uma pequena polêmica envolvendo o design de personagens de Eizouken ni wa Te wo Dasu na! em que, enquanto uma maioria elogiava o design das protagonistas da série pela sua expressividade e puro carisma que o mesmo transmitia, outras deixavam passar completamente o ponto desses elogios e o criticaram a partir de um padrão de estética, associando, ainda que indiretamente, a suposta feiura das personagens com uma baixa qualidade do design em si.

Ainda que eu discorde que o design de Eizouken seja feio sobre qualquer aspecto imaginável, não vejo necessidade de discutir essa polêmica desse momento. Pois não apenas é um assunto já ficou para trás na mente das pessoas como também é o tipo de polêmica que considero como artificial e, ainda mais importante, a Mikann, já na época em que o assunto estava em alta, fez um excelente vídeo sobre, do qual teria apenas alguns pontos a acrescentar que, sendo bastante sincero, não são tão relevantes assim.

Por outro lado, o design de personagens é um assunto que está em meus planos de postagem há um bom tempo, mais especificamente aquilo que toca o uso de cores em sua composição.

Antes de avançar para o uso das cores em design de personagens, precisamos entender pra quê serve um design de personagem, o seu propósito, qual é o motivo de ser do visual de um personagem, porquê dele ser pensado de dada maneira, independente de ser um trabalho intencional ou não.

Numa primeira instância, o design tem o objetivo de ser chamativo, pois, como dito no começo do texto, é o primeiro argumento com o qual o telespectador possui contato, e é a primeira oportunidade que seus criadores têm para fisgar o interesse dos seus consumidores em potencial. Por conta disso, os personagens precisam causar uma impressão, um forte sentimento ou algum tipo de impacto emocional, justamente para provocar curiosidade na obra.

Óbvio, aqui entra a questão da beleza. Ter personagens bonitos, ou mesmo sensuais, estampando um cartais chama atenção, mas ao mesmo tempo ter uma figura forte, de aparência heroica, um alguém desajeitado e engraçadão, um personagem fofo e bonitinho também chamam a atenção por outros motivos, e dependendo do público até mesmo mais de que pelo apelo sexual.

Além de chamar a atenção para obra, essa primeira impressão do telespectador dos personagens é fundamental para que ele crie algum laço emotivo com eles, seja criando alguma forma de empatia, identificação com eles em um ou outro aspecto, afeto e até mesmo carinho. Ou o exato oposto, por vezes a intenção é a de criar alguma espécie de repulsão para tal personagem.

E é claro, esse é o momento em que a opinião sobre tal personagem é criada. É nesse primeiro contato visual que o leitor dessa obra começa a fazer diversos julgamentos sobre o personagem, projetar sua personalidade a partir do quê sua aparência transpassa, suas possíveis qualidades, defeitos, características, posição social, força, habilidades e até mesmo sua função dentro da trama.

Sendo assim, a função do character design que mais nos interessa aqui é a de nos contar algo sobre o personagem (desde sua personalidade até sua relação com outros personagem), criar sua identidade, assim como o de estabelecer uma expectativa sobre ele (que pode ser ou não subvertida pela obra), especificamente como o uso de cores contribui para atingir esses objetivos.

Nesse sentido, o exemplo mais chamativo do uso das cores para criar a identidade de um personagem está nos Tokusatsus, em particular nas séries de Super Sentai (e por influência delas também em Mahou Shoujos e grupos de Idol), em que para cada um dos super-herói se associa a uma cor sólida, vermelho, azul, amarelo… Quem cresceu assistindo Power Rangers consegue entender muito bem esse conceito. Quando se cria uma forte associação de uma cor a dado personagem, o telespectador consegue rapidamente identificá-lo, não importa quão curta, rápida e borrada seja uma cena, basta ver um vulto vermelho passando por algum canto da tela que o telespectador sabe muito bem quem é.

Além disso, essas cores também são associadas ao papel de cada um naquele grupo. Geralmente o ranger que veste vermelho é o líder, o de azul é o intelectual, o amarelo aquele age mais baseado na emoção… o que permite que se entenda a dinâmica de grupo sem de fato conhecer aqueles personagens, de maneira indutiva. O mesmo acontece em séries de mahou shoujo, em que a garotinha de cabelo rosa, ou que veste a cor, é geralmente a protagonista, ou pelo menos a peça central da trama, e aquela que está associada a cor roxa é geralmente o seu exato oposto, sendo uma parceira em potencial ou que a complementa em diversos aspectos, ou mesmo uma entidade maligna ou ainda a vilã da série.

Essas associações não existem por acaso, e nem mesmo são resultado de convenções criadas puramente dentro do gênero, mas sim são produto da cultura humana, daquilo que nosso cérebro associa por si próprio e muita intertextualidade.

Para entender como essas associações funcionam na prática, usarei como exemplo os personagens de Fire Emblem Three Houses, jogo lançado para Nintendo Switch do qual falei sobre em outro texto meu aqui no medium, pois acredito que esse último título da série desenvolvido pela Intelligent Systems usa e abusa das cores de seus personagens para enriquecer sua narrativa e deixar o elenco ainda mais atrativo. O que envolverá alguns spoilers do jogo, incluindo elementos recentemente incluídos no último DLC, Cindered Shadows.

Assim que fomos apresentados aos primeiros personagens de Three Houses também fomos informados que os mesmos estavam divididos em, bom, três classes de estudantes, cada uma delas relacionadas com um país diferente e cada com uma cor específica em sua respectiva bandeira, que por sua vez correspondem a cores das correspondentes nações.

Essa distinção de cada nacionalidade através de uma cor contribui para a construção das relações entre cada nação e seus respectivos estudantes por basicamente dois motivos. Primeiro é que essas cores naturalmente evocam uma associação de oposição e rivalidade entre si, pois essas cores que evocam sentimentos divergentes (Vermelho está associado com a fúria, força, agressividade, guerra, determinação, sangue, fogo, paixão, rebeldia, revolução. Amarelo com a felicidade, intelecto, energia, perigo, ouro, otimismo, confiança, força emocional, lógica. Azul com tranquilidade, paz, calma, persistência, confiabilidade, conservação, ordem, passividade, devoção religiosa, espiritualidade, céu, mar.), além de serem fáceis de se fazer distinção entre elas, e não atoa são comumente as primeiras cores a serem nomeadas dentro de uma língua, junto do preto, branco e verde.

O segundo motivo está relacionado com a própria história de Fire Emblem e como cores são usadas no decorrer da franquia. O jogo costuma representar as unidades controladas pelo jogador (vulgo: os mocinhos) utilizando azul, as unidades inimigas pela cor vermelha e usa a cor amarela para representar uma terceira facção, que pode ser tanto aliada, inimiga, ou neutra. Além disso a franquia também utiliza a cor verde para representar unidades aliadas ou que devem ser protegidas em uma missão. O que bate com a perspectiva de Dimitri (Blue Lions) em sua rota, o que faz completo sentido, já que sua classe fora concebida com os arquétipos mais tradicionais da série segundo revelado pelos desenvolvedores em recente entrevista para famitsu (parcialmente traduzida para o inglês), já que Dimitri e seus companheiros têm como inimigo direto o exercito comandado por Edelgard (vermelho) e lutam para proteger Rhea (verde) enquanto a aliança liderada por Claude (amarelo) se encontra em uma posição incerta dentro do conflito, dividida em apoiadores do império e da igreja.

Naturalmente, essa associação de cores a cada uma das facções se reflete diretamente nos designs dos personagens, não apenas a cor de cada casa está incorporada ao uniforme de seus respectivos líderes na fase estudantil do jogo como é inegável a influências dessas cores no design desses personagens após o timeskip.

Arte conceitual de Edelgard, Dimitri e Claude pós timeskip.

Ao mesmo tempo, as vestes que os outros estudantes da Black Eagles e da Blue Lions utilizam durante a fase da guerra também refletem a nação da qual pertencem através de suas cores. Apesar de vestir-se inteiramente de preto o interior da capa de Hubert é vermelho, Dorothea usa um vestido da mesma cor, a também cor é predominante nas vestes de Ferdinand, assim como as roupas de Caspar, Bernadetta e Petra são coloridas por tons relativamente próximos ao vermelho, como violeta, roxo, laranja e marrom.

Do lado do reino esse padrão também é bastante evidente. As vestimentas de Felix e Ashe são cobertas de tons que variam do roxo ao azul-petróleo, Dedue apesar de sua armadura representar boa parte de suas vestimentas ainda utiliza muito desse azul esverdeado em suas roupas, e o mesmo vale para as roupas de Sylvain, que utiliza tanto o vermelho de seu cabelo como esse mesmo azul no pouco de tecido que deixa a mostra. Da mesma forma Annette, apesar de usar um vestido predominantemente branco, também deixa o azul em destaque em seu visual. E por último, as roupas de Ingrid são predominante aqua (ou azul/verde), o que por si já é uma cor bastante próxima do azul que representa o reino, mas é difícil de não notar que suas luvas são gritantemente azuis.

Apenas dois personagens destoam com as cores de suas nações. Linhardt veste-se predominantemente de verde, cor diretamente oposta ao vermelho, já as vestes de Mercedes são tingidas de creme e marrom, algo muito mais condizente com uma palheta de amarelo, que é o oposto do azul de seu reino. Não coincidentemente esses dois personagens são aqueles que naturalmente ocupam a posição de healers de seus respectivos grupos, ou seja, uma posição de suporte para aqueles que estão da linha de frente, fazendo sentido que vistam cores complementares a cor de suas facções.

Essa aproximação de cores acaba criando um senso de unidade em cada um dos grupos, o que reflete a estrutura política das duas nações, centralizadas na figura do imperador e seus ministros e do rei e seus vassalos em respectivo. O mesmo não acontece com os alunos da Golden Deer, que não apenas usam cores bem distintas entre si, vestindo-se com as mesmas cores que seus cabelos (com exceção de Lysithea, que veste tanto branco como roxo), e não incorporam o amarelo da aliança em suas vestimentas, o que também reflete o estado daquela nação, descentralizado, com nobres governando seus territórios de maneira independente.

Os cavaleiros de Seiros também possuem um código de cores, sendo ele branco com apenas alguns detalhes em vermelho, o é uma pequena dica da ligação que há entre a igreja e o império — além de frequentemente paladinos e cavaleiros ligados à igreja católica serem representados com o uso dessas cores. Porém, apenas dois (Alois e Catherine) dos cinco personagens que se enquadram nessa categoria seguem esse padrão em suas vestimentas, mas os outros possuem os seus motivos. Shamir, por exemplo, não é devota à igreja, apenas a Rhea, e nem sequer nativa de Fódlan, mas sim uma mercenária vinda de Dagda, um continente vizinho. Ao mesmo tempo, as roupas de Gilbert remetem ao seu passado como cavaleiro do reino, e a sua fidelidade a ele, enquanto faz sentido que Jeralt, pai de Byleth, como um paladino que abandonou sua posição como cavaleiro de Seiros, e fez seu nome como mercenário, vista as próprias cores, em vez de um uniforme.

Essas cores também servem para identifiquemos a facção de cada NPC presente no jogo, em particular os soldados de cada um dos exércitos. Soltados vestido de amarelo pertencem a aliança, os vestido de vermelho do império, os de azul são do reino, e os de branco com vermelho da igreja. Esses uniformes são um detalhe para a ambientação do monastério, principalmente durante a fase da guerra, em que apenas um (ou no máximo dois) exército ocupa a fortaleza.

Falando em uniformes, os Ashen Wolfs, a quarta casa de estudantes incluída pelo último DLC, não estão associadas a nenhuma nação como as outras classes, mas sim ao abyss (abismo), um local escondido no subterrâneo de Garreg Mach Monastery, habitado por aqueles rejeitados pela superfície por um ou outro motivo, e suas cores refletem essas características. Sendo branco, em contraste com os uniformes pretos dos habitantes da superfície, facilmente associado com criaturas que vivem no escuro, em constante privação à luz do sol, ou que simplesmente não a suportam. O cinza também reforça essa relação, ao mesmo tempo em que evoca tanto uma noção de neutralidade como de dubiedade. Por fim, o roxo também presente em suas cores reforça ainda mais esse significado, sendo uma cor constantemente usada para representar magia negra, artes das trevas, o maligno, o sombrio, e veneno dentro e fora da série.

Dos quatro estudantes da casa, apenas Yuri, líder da Ashen Wolfs, veste de forma mais similar com os estudantes da superfície, principalmente com os outros líderes, o que é condizente com o seu passado, uma vez que ele se tornou um habitante do abismo após ser expulso da academia militar do monastério.

E é claro, para fechar esse segmento sobre o vestuário, Byleth não veste roupas pretas sem um motivo. Pois é uma cor neutra que permite que ele se misture bem ao lado de qualquer casa ou facção com a qual o jogador se alie em sua jornada. Além de refletir sua personalidade, ou a falta dela, uma vez que o personagem controlado pelo jogador é tanto o receptáculo da deusa Sothis como é, relativamente falando, vazio emocionalmente, praticamente não possui memórias próprias e nem sequer tem conhecimento sobre aquele continente. Ainda, a cor é fortemente associada a seriedade e a formalidades, sendo comumente usada em ternos e vestidos sociais, algo que combina bem com sua nova posição como professor.

Notoriamente, a própria cor do cabelo de Byleth também ressoa com essa escolha de cores de suas roupas e com sua personalidade, com o azul dos seus olhos combinando com sua personalidade mais fria, e o tom escuro reforçando o fato o personagem ser um recipiente para a alma de Sothis, algo que fica bastante evidente quando ele se funde a deusa e herda os seus poderes, momento em que tanto seus olhos como o seu cabelo se toram muito mais claros, e assumem esse verde de aparência artificial. O que simboliza a iluminação que recebera da Deusa e o próprio fato desse novo poder não ser de fato dele, principalmente quando comparamos a nova cor com o cabelo de Sothis.

Por outro lado, Byleth e Sothis não são os únicos a possuírem cabelo verde dentro da trama. Rhea, Flayn e Seteth também possuem uma cor de cabelo bem próxima da deusa, e o motivo é bastante claro no decorrer da trama: os três são os crias da Deusa, criaturas chamadas de Nabatea capazes de tomar forma de um monstro ou manifestar se na forma de um humano, como a própria deusa.

A cor não é escolhida por acaso, não apenas é a cor de cabelo usada para representar os diversos dragões capazes de assumir forma humana dentro da própria série (o que faz com que a revelação do parágrafo anterior não seja nenhuma surpresa para os jogadores veteranos de Fire Emblem), como é uma cor associada com a natureza, harmonia, equilíbrio, fertilidade, paz, conhecimento, regeneração, abundancia, sabedoria, alienígenas, saúde, vitalidade, estabilidade, longevidade etc., ou seja, várias coisas de que o dragão também é simbolo.

Seteth, Flayn e Rhea, respectivamente.

E mesmo se não fossem as figuras dracônicas da trama, a cor caberia bem para caracterizá-los, pois complementa a imagem inicial que esses personagens querem passar. Rhea, como arcebispa da igreja de Seiros, por exemplo, é uma figura materna bastante acolhedora, que não apenas recebe o protagonista de braços abertos como abriga outros personagens dentro da trama, como Jeralt, Catherine, Shamir e Cyril. Já Seteth, pela sua posição de conselheiro, aparenta ser um homem bastante sábio e sensato, sendo parte do motivo a cor de seus cabelos. E no caso de Flayn, a cor pode ser facilmente associada com as suas habilidades com magia, sendo uma curandeira bastante capaz(parte por conta de seu Crest), ter acesso a magias ligadas ao vento (que por sua fez é comumente associada com a cor verde), pela sua personalidade gentil, amigável e não violenta.

Outro personagem de cabelo verde é o já mencionado Linhardt, que além de possuir o mesmo Crest que Flayn, naturalmente assumi a posição de curandeiro do grupo, ao mesmo tempo que também possui afinidade com magias de vento. E ainda, o personagem é descrito por vários personagens e demonstra em diversos momentos da trama ser bastante inteligente.

Linhardt e Ignatz, respectivamente.

Ignatz é outro dos estudantes que podem ser colocados como um dos mais inteligentes, ainda que a sua inteligência seja mais voltada ao campo das artes e da história, o que explicaria o fato da cor do seu cabelo ser mais próxima do amarelo, pela associação com o saber emocional. Além disso, Ignatz possui um talento natural com arco e fecha, ter bastante destreza e agilidade (Dexterity e Speed), atribulo que eventualmente são associadas a cor verde (em parte pelo vínculo entre a cor e ao vento).

A cor também está presente nos olhos de outros cinco estudantes, sendo eles Dedue, Ashe, Ingrid, Claude e Dorothea. Sendo nos três primeiros a cor sendo associada à lealdade, ao dever de proteger e de servir, e outros valores relacionado aos valores dos cavaleiros, enquanto os olhos de Claude refletem a esperteza que o personagem esconde por trás de sua personalidade leve e descontraída.

Claude, Líder da Golden Deer.

Ao mesmo tempo, a cor de cabelo de Claude (principalmente quando cercado de personagens com as mais diversas cores de cabelo) o dão a aparência de ser alguém mais comum, não alguém vindo diretamente da nobreza. O que combina perfeitamente com a sua personalidade mais livre e menos refinada, além de consoar com seu passado. Filho de Tiana (segunda filha do líder da aliança e duque Oswald) e do rei de Almyra (país vizinho e Fóldan, e considerado hostil), Claude sempre fora discriminado durante a infância passada no país de seu pai, devido ao sangue estrangeiro, tendo que aprender a se virar sozinho para sobreviver naquele ambiente hostil, além de nunca ter recebido a educação esperada de uma família nobre de modo que é de esperar que o líder da Golden Deer não tenha o mais refinado dos comportamentos. Além disso, Claude é naturalmente um ser bastante sociável, sendo dos três líderes de classe o que mais possui supports com estudantes fora de sua própria turma, algo que combina tanto com a cor de seus olhos, como pelo tom mais escuro de seu cabelo (comparado com Dorothea) que, novamente, transpassa uma ideia de neutralidade pela associação com a cor preta.

Dorothea, e eu poderia fazer uma referência a Jojo aqui, MAS EU ME RECUSO!!

Já Dorothea, apesar de seu cabelo ser um pouco mais claro, possui a mesma combinação de cores que Claude, por motivos similares. Para começar, a cor possui uma ligação com o seu talento com música, atuação, e olhos verdes são considerados como uma característica ligada a beleza, que faz parte do personagem de Dorothea. Além de seu passado como órfã, Dorothea é a única estudante de Black Eagles a não pertencer a uma casa nobre ou ter nascido de realeza. Após a morte de sua mãe Dorothea viveu sua vida nas ruas até ser acolhida pela companhia de opera Mittelfrank devido a sua voz naturalmente bela. Dorothea possui uma forte rejeição pela nobriedade, devido ao modo como ela era tratada como mero objeto de desejo pelos nobres que frequentavam a opera, e por seu pai, vindo de uma família nobre do império, ter descartado tanto ela como sua mãe por Dorothea não ter herdado seu crest. Curiosamente, apesar de sua forte rejeição pela nobreza, e por declarar ódio tanto a Ferdinand como a Lorenz, Dorothea é a única personagem que possui supports com os quatro principais nobres do jogo, citados em meu texto anterior.

Marrom, ou castanho, é uma cor bastante curiosa por diversos motivos. O primeiro deles é que a cor é basicamente um laranja escuro, ou pouco saturado, mas raramente reconhecemos ela como tal. Um fenômeno que não acontece com outras outras cores (hue), como explicado pelo canal Technology Connections (em inglês). A cor também é muito provavelmente a mais abundante em toda natureza, sendo a cor da terra, da madeira, da pelugem da maioria dos animais (incluindo os humanos)… E por conta disso ela é uma cor que não se destaca com facilidade, uma cor que transparece simplicidade e familiaridade. Não atoa é a cor escolhida para os personagens genéricos dentro do jogo (aqueles NPCs sem nome próprio) e personagens que possuem uma origem comum, como Alois e Cyril.

Por outro lado, marrom é associado a monotonia, secura, infertilidade e aridez. Por conta disso, não é surpresa que a cor também seja parte do design de personagens com alguma cicatriz emocional profunda, ou mesmo baixa estima, como Ingatz (que se culpa pela morte dos pais de Raphael), Marianne (portadora de um crest considerado amaldiçoado, e trazedor de má sorte), Felix (morte de seu irmão Glenn na tragedia de Duscur), Sylvain (o fato das pessoas apenas o enxergarem como portador de um crest e não quem ele realmente é) e a própria Dorothea (que apesar da personalidade dizer o contrário, tem alguns problemas de autoestima).

Em contraste com o marrom, o laranja está fortemente associado com a positividade, a criatividade, o entusiasmo, coragem, juventude, aventura, otimismo, felicidade, diversão, liberdade de espírito e impaciência. É uma cor bastante usada em protagonistas de Shounen, seja nas cores das roupas de Naruto, na cor de cabelo do Hinata de Haikyu!! ou mesmo as roupas de luta dos guerreiros de Dragon Ball, por misturar a energia presente na cor amarela com a agressividade e força do vermelho a cor acaba representado os ideais que esse tipo de personagem. Além que nunca desiste, confiante de si, um otimista por natureza e alguém que vê seus amigos e aliados como prioridade.

I’m Ferdinand von Aegir

Olhando para os personagens de Three Houses, o significado da cor fica bastante evidente. Ferdinand von Aegir é a personificação da autoconfiança, ao ponto dessa característica ser um dos principais motivos do personagem ser desgostável num primeiro contado. Ferdinand von Aegir é um idealista, autoproclamado rival de Edelgard, alguém que busca sempre o melhor de si mesmo, corajoso e sempre disposto a ajudar ou mesmo proteger os outros.

Eu vou deixar isso aqui. E isso também. E só porque eu posso, tem mais, E MAIS.

Annette por outro lado é certamente uma personagem divertida. Seus supports volta e meia envolvem ela cantando enquanto realiza alguma forma de atividade doméstica, como arrumar a biblioteca ou mesmo cuidar da estufa. Apesar de bastante positiva e sempre trazendo bons ares ao ambiente, e sempre disposta a ajudar, Annette é igualmente desajeitada, ao ponto de ser a única a convencer Hilda a arrumar o próprio dado a imensa quantidade de acidentes de percurso provocados pela sua boa vontade.

Leonie, também conhecida como Jeralt segunda.

Já Leonie é provavelmente uma das personagens mais impacientes dentre todos os estudantes. Tendo Jeralt como seu maior ídolo e mestre, nada mais natural que ela tende alcançá-lo e o imite de diversas maneiras, em particular na escolha de seu figurino, que pela cor laranja refletem os ideais que alguém que leva a vida como mercenário deve ter. Ao mesmo tempo, Leonie possui outras características que combinam com a cor pois ela é honesta, impulsiva e até mesmo moleca (vulgo tomboy).

Outro personagem que possui a cor em seu design é Kronya, um dos principais vilões da primeira parte do jogo e assassina de Jeralt. Conhecemos pouco sobre a sua personalidade, mas esse pouco casa com o significado da cor laranja, principalmente pelo fato dela ser um espírito livre, sendo descrita por Thales, líder dos Agarthans, como alguém difícil de ser controlada. Além disso, seus olhos de cor vermelha refletem a sua natureza cruel e sanguinária, um detalhe que facilmente passa despercebido, dado a proximidade das duas cores.

Kronya e seu disfarce como Monica.

É curioso, também, que seu disfarce como Monica contenha tanto vermelho em seu design, dado que a cor ressalta sua natureza assassina… o que não é exatamente ideal para um disfarce. Ao mesmo tempo, não há como negar que Monica (a de verdade) era uma estudante da Black Eagles (o que novamente trás a ligação com o vermelho), descrita por aqueles que a conheceram (incluindo Hilda) como extrovertida, direta e não muito formal, o que são características passíveis de serem associadas a cor vermelha, por ser uma cor quente. E mais importante, Kronya não estava muito preocupada em imitar a personalidade original de Monica, com muitos estudantes notando que ela tinha se tornando mais alegre em comparado com sua personalidade antes de seu desaparecimento, ainda que os estudantes tenham interpretado essa mudança de personalidade com o fato d’ela ter sido sequestrada pelo Death Knight.

Don Sylvain.

Mas é claro, a cor vermelha não expressa apenas violência e agressividade. Olhando para Sylvain, a cor se relaciona com o seu lado galanteador, com o fato de que o personagem está constantemente se relacionando com diversas garotas dentro do monastério sem a intenção de desenvolver qualquer forma de relacionamento sério com qualquer uma delas. Impulsividade, luxuria e até mesmo seu comportamento desleixado são realçados pela utilização da cor em seus cabelos. Algo que, como abordado no texto anterior, acaba ocultando a motivação por trás de seus atos e dando uma imagem de alguém inconsequente.

Apesar de usar apesar do vermelho, Hapi não é a mais Happy dos personagens.

Por outro lado, uma cor viva e bastante calorosa como o vermelho, quando utilizadas no design de um personagem, transpassam a ideia de alguém ativa, com bastante energia, agressividade, ou até mesmo vivacidade. O que causa certa estranheza quando Hapi é concebida com a cor sendo que ela não é nenhuma dessas coisas. Chama atenção o fato tão retraída, passiva e até mesmo apática seja representada dessa maneira, mas ao entendermos um pouco sobre a personagem fica fácil entender o motivo da escolha do vermelho em particular.

O vermelho é provavelmente uma das cores que mais chamam a atenção e saltam aos nossos olhos. Não atoa é justamente essa cor usada para indicar situações de perigo, chamar atenção para publicidade ou coisa parecida, especificamente na indústria é utilizada para identificar equipamentos de combate a incêndio, e no transito para indicar situações que necessitam de toda atenção dos motoristas. E no final das contas, o design de Hapi é pensado para transpassar essa ideia de perigo, de alerta, uma vez que a garota possui uma condição especial, em que toda vez que ela suspira acaba atraindo monstros ao seu redor.

Por esse motivo Hapi é vista como uma pessoa perigosa, alguém com quem os outros não querem ter por perto. Por conta disso, Hapi precisa manter suas emoções sobre controle, evitar suspirar por qualquer motivo que seja. O que por sua vez deve ser uma situação bastante estressante para ela, que não apenas explica o seu comportamento e falta de otimismo novamente se associa a cor vermelha.

E̶s̶p̶o̶s̶a̶ ̶d̶a̶ ̶B̶y̶l̶e̶t̶h̶ Edelgard, futura imperatriz de Adrestian.

Associar vermelho a Edelgard é inevitável, mas dizer que ela é a única cor que pinta a sua imagem não seria verdade. Seus cabelos brancos carregam muito mais significado do que aparentam numa primeira vista. As primeiras associações com a cor branca nos trazem ideias de paz, pureza e inocência, o que ajuda a criar uma imagem de alguém com boas intenções em mente. O que se aproxima da imagem que temos de Ashe, por exemplo, cujo cinza de seus cabelos também passa a ideia dele ser alguém quieto, calmo e reservado.

Ao mesmo tempo, a cor também aparece no cabelo de Dedue, que assim como Ashe é bastante reservado. Na verdade, Dedue vai além disso, constantemente desencorajando os outros a interagirem com ele (devido a tragedia de Duscur), o que apenas atenua o seu isolamento e solidão, dois sentimentos trazidos pela cor branca.

Dedue a Ashe. A cor do cabelo Ashe está mais para um cinza do que pra branco, e o que foi dito sobre a cor relativa as Ashen Wolfs também se aplica a ele.

Por outro lado, o branco também trás a ideia de empoderamento, que enxergamos tanto em Edelgard, principalmente quando ela assumi sua posição como imperatriz, como em Rhea, em função de sua alta posição na igreja de Seiro. E em relação a essa segunda, a cor também se associa a características ligadas ao divino, como completude e bondade, mas também é uma cor frequentemente usada em hospitais, pela ideia de limpeza que a cor trás. O que fica evidente no final do jogo (dependendo da rota), mais especificamente quando o jogador derrota Edelgard e recupera Rhea de seu carcere, encontrando-a despidas de seus habituais acessórios, vestindo apenas um vestido branco, dando lhe a imagem de alguém extremamente vulnerável, frágil, fraca e até mesmo doente.

Lysithea, também conhecida como o terror do Death Knight.

Além de ser associada a uma falta de saúde (quando ligada a pele) a cor branca também representa a sabedoria da velhice, ou ela própria. O que nos leva a Lysithea, já que a atual cor de seu cabelo se dá em função de um experimento que fundira um segundo crest em si, fazendo seu corpo envelhecer de forma anormal, ser fisicamente frágil e ter sua expectativa de vida drasticamente reduzida. Similar, Edelgard possui cabelos brancos pelo mesmo motivo, ainda que em seu caso não seja explicitado se o experimento também reduzira, e de ser pouco provável que ela sequer tenha o corpo fragilizado dado seus status como unidade, principalmente em comparação a Lysithea. E, ainda, a associação com a velhice também implica em uma relação com a sabedoria e inteligência, algo que tanto Edelgard como Lysithea (jovem prodígio) são reconhecidas por.

A cor branca ainda representa esperança, unificação (ou unidade), e novos começo, o que pode ser atrelado com facilidade aos ideias e objetivos de Edelgard em destruir a igreja e estabelecer um novo sistema político, abolindo a influência dos crests na sociedade. O que nos leva ao significado da cor de seus olhos, o roxo (ou violeta), que representa a visão de um ideal nobre a ser perseguido pela personagem ao decorrer da trama. Ainda, a cor pode ser relacionado com suas habilidade com magia, por ser um dos poucos personagens do jogo a aprender naturalmente magia negra (Dark Magic), assim como é o caso de Lysithea, e no caso de Edelgard ela é a única (além de Jeritza) personagem que além da magia negra também pode aprender magia elemental (Black Magic), ambas magias de fogo diga-se de passagem, ao desenvolver sua proficiência em razão (Reason).

Top 10 personagens que precisam/merecem um abraço.

Roxo também é comumente usada em personagens com tendências antissociais, que possuem algum tipo de inadequação ou incapacidade social, ou ainda baixa estima, muito provavelmente devido a associação que a cor tem com o mundo espiritual, especialmente fantasma. A Hikkikomori Bernadetta é um desses casos. Em virtude da questionável educação dada pelo pai, passa seus dias na academia trancada em seu próprio quarto, tem medo de se aproximar das outras pessoas, e se assusta muito facilmente.

Você confia nesse sorriso? Eu não confio nesse sorriso.

A cor também é utilizada para representar o oculto, o místico, e o ambíguo. Algo que encontramos com força no design de Yuri, que transpassa a imagem de ser um (senão o) dos personagens mais traiçoeiros e não confiáveis de todo jogo. Yuri é alguém que vive no submundo, e utiliza todos os recursos que lhe são disponíveis a benefício próprio. É difícil dizer se ele está realmente ao nosso lado, ou se é de fato um inimigo, se diz a verdade, ou se apenas mentiras saem de sua boca. Um verdadeiro Trickster por natureza. Até o mesmo o seu gênero é ambíguo, dado seus traços andróginos e a presença tanto de características femininas como masculinas em seu design, o que é reforçado pelo fato do violeta ser uma mistura entre o vermelho e o azul, cores culturalmente consideradas feminina e masculina respectivamente.

Apesar de não estar habituada a língua de Fódlan, Petra demonstra ser bastante inteligente.

O cabelo de Petra, por outro lado, possui um tom mais quente e próximo do vermelho do que outros personagens que incorporam o roxo em seu design, pois Petra é uma caçadora nata, habilidosa com a espada e o arco, além de extremamente ágil e veloz, que são características bem representadas pelo tom mais avermelhado de seu cabelo. Ao mesmo tempo, Petra não é alguém que ataca seus inimigos, ou presas, de frente, mas sim é uma guerreira que age de forma furtiva, ou seja, o significado de oculto que a cor roxa trás. E outro elemento de sua personalidade que se associa a cor é o fato d’ela ter uma forte conexão praticamente espiritual com a natureza, preferindo se envolver em atividades ao ar livre.

Infelizmente não somos refinados o bastante para sequer compreender a grandiosidade do cabelinho do Lorenz.

Por muito tempo a cor púrpura se encontrava entre os pigmentos mais raros utilizados para tingir todo tipo de tecido, dado a dificuldade de encontrar sua matéria prima. Por conta disso, a cor acabou se tornando um símbolo de fortuna, nobreza, elegância, renome e liderança. Claro, se pensarmos por esse lado faz sentido que Yuri venha em mente, uma vez que ele se apresenta como o elegante líder dos ladrões, mas não há como ignorar Lorenz, que utiliza a cor em sua forma mais vibrante. E nem é preciso explicar o motivo, já que muito de, se não todo, seu personagem envolve o fato dele ser um nobre e querer atingir as expectativas que as pessoas tem ao seu redor por conta disso.

Ara Ara.

Também encontramos a cor nos olhos de Mercedes, e de seu meio irmão mais novo Emile, o que pode ser relacionado com o fato dela ter nascido em uma casa nobre do império, antes de fugir de seu padastro junto de sua mãe, vivendo em uma igreja no reino, até eventualmente ser adotada por uma família de mercadores. A cor de seus olhos é fácil de passar despercebida, pois é apenas um detalhe de seu design que acaba não chamando muita atenção. Inclusive, Mercedes é uma personagem que não chama muita atenção por si só, ela é bastante calma, tranquila, faz as coisas em seu próprio tempo e não sai por ai falando sobre ter nascido entre a nobreza. O que combina bastante com a cor escolhida para o seu cabelo, que evoca sentimentos bem parecidos com a cor marrom, além de lhe darem um rosto gentil, bastante amigável e angelical, pois sua aproximação com o loiro acaba evocando imagens associadas aos anjos.

Ohohoho~

Por outro lado, sua amiga de infância, Constance, faz questão que todos saibam seu sonho de reviver a sua casa de nascimento, Nuvelle, dissolvida após colapsar com a guerra de Dagda e Brigid contra o império. Constance é um caso especial em Three Houses, por ser a única personagem com mais de uma cor presente em seu cabelo, sendo ele primariamente loiro (ou um amarelo claro) com mechas roxas na parte interior. Não por coincidência, ela é a única dos estudantes em Three Houses a ter dupla personalidade. Uma extremamente radiante, grandiosa e um pouco arrogante (dai do amarelo) e outra cabisbaixa, de tom auto depreciativo e excessivamente cortês(o que tem mais ligação com o roxo), que vem atona quando a personagem é exposta a luz do sol. Ao mesmo tempo, ambas as cores se ligam ao seu sonho de reviver a casa Nuvelle, já que amarelo é uma cor relacionada ao ouro e riquezas de modo geral.

Olhando para outro personagem de cabelo loiro, Raphael, é difícil apreender de seu design o que a cor amarelo nos transmite, porque seus largos músculos e grande sorriso dizem tudo o que precisamos para compor uma primeira impressão do personagem. Ele é o gigante gentil. Força bruta, companhada de um coração enorme, e um intelecto que não está nem um pouco a par de suas qualidades. Amarelo é uma cor que transpassa otimismo, alegria, entusiamos, força emocional, amizade e energia, e certamente Raphael pode ser descrito dessa maneira, mas é difícil mensurar o quanto a escolha de cores do design dele realmente impactam na leitura que fazemos de sua aparência.

Já para Ingrid, a cor ressalta o seu desejo e objetivo de se tornar uma cavaleira e dão um ar bastante alegre para personagem, o que esconde perfeitamente o quão profunda é a sua ferida com a tragedia de Duscur, que tirou a vida daquele que ela amava e de seu ideal de cavaleiro, algo que Ingrid não transparece em sua atitude otimista e esperançosa. Além disso, a cor também se relaciona com sua aspiração pelo fato de se relacionar a honra e a lealdade

As cores de Dimitri evocam a imagem mais clássica, para não dizer clichê, de um príncipe.

Nessa mesma veia, a cor também combina com a imagem de Dimitri, principie e futuro rei, pela relação com o ouro, comumente usado em coroas, e pelas qualidades positivas já mencionadas, o que ajudam a criar a imagem de alguém bastante confiável, amigável e confiante. Mas, também, a cor também se associa com o lado obscuro do personagem, como medo, fragilidade emocional, depressão, ansiedade e irracionalidade.

Ao mesmo tempo, é curioso notar aqui que amarelo é a cor da Golden Deer, casa de Claude. Que por sua vez carrega a cor verde em seu design, ainda que timidamente, cor associada com os membros mais distintos da igreja de Seiros. E por fim, tanto Rhea como Seteth utilizam o azul em suas roupas, o que nos leva de volta para Dimitri, criando uma ligação entre as três facções, e excluindo os aliados de Edelgard (que são conectados, visualmente, através das cores vermelho, branco e preto).

Ainda sobre Dimitri, a cor azul ressalta o sentimento de segurança, calma, confiança, sinceridade e responsabilidade que temos dele na primeira parte do jogo. Enquanto se conecta ao personagem na segunda parte por ser uma cor associada a tristeza, melancolia, depressão, e a escuridão do mar profundo.

Já Felix é alguém que não transparece ser muito amigável. Quando olhamos para o seu design imediatamente assumimos que ele é uma pessoa de poucos amigos, que prefere se manter afastado, ficar sozinho, isolar-se, treinar sozinho… ou seja, Felix é reconhecido como um lobo solitário assim que temos o primeiro contado. Ou pelo menos essa é a imagem que Felix quer passar, e o azul escuro ajudam a criar essa figura, já que o escuro dos seus cabelos se aproxima do preto, o que evoca esse sentimento de seriedade que a cor mais escura passa.

O azul turquesa usado em Caspar, por outro lado, o dão um ar leve para o personagem, o que acaba comunicando o fato dele ser o mais ágil e menos resistente e frágil que os outros personagens porradeiros (Raphael e Balthus), ao mesmo tempo que a cor transpassa mais energia do que outro tom de azul. O turquesa ainda é uma cor fria, o que no caso de Caspar pode remeter a falta de capacidade dele em perceber as emoções e de levar em conta os sentimentos alheios, apesar de sempre ter a intenção de ajudar.

Por fim, Marianne é o pico de uma personagem introvertida e tímida. Tendo bastante dificuldade em se relacionar com outras pessoas, Marianne prefere ficar na companhia de animais em vez de outros seres humanos. Obviamente, o azul claro do seu cabelo ajudam a levantar essa aparência de alguém distância, triste, depressivo e solitário. A única exceção é sua melhor amiga Hilda, que é o seu exato oposto.

Se junta elas já são isso tudo, imagina juntas.

Muito diferente do azul claro de Marianne, o rosa utilizado por Hilda é uma cor mais vibrante, alegre, calorosa e amigável. Essa dualidade entre as cores usadas nas personagens ajuda a criar uma conexão entre as duas. Basta serem colocadas juntas que somos levados a vê-las como um par, seja uma dupla de amigas, de amantes, parceiras, irmãs… Como é o exemplo das gêmeas Ram e Rem de Re:Zero kara Hajimeru Isekai Seikatsu, em que a diferença nas cores usadas para representar cada uma das personagens ajuda a construir a forte ligação que há entre elas, ajuda o telespectador a diferenciá-las, ao mesmo tempo que ressalta as diferenças que há entre elas (Sendo Rem a irmã mais calma e tranquila, isso é, na maior parte do tempo, e Ram mais atrevida hostil). Cores que usadas para estabelecer relações parecidas com a de Marianne e Hilda geralmente se diferem apenas em matriz(hue) ou brilho(lumiosidade), ou seja, a saturação se mantêm (geralmente), como azul/vermelho, amarelo/roxo, rosa/azul claro, branco/preto, enfim, uma infinidade de combinações

E é claro, a cor rosa também reflete muito da personalidade de Hilda. Sendo uma cor que representa infantilidade, feminilidade, positividade, tranquilidade, compaixão, ternura e afeição, sendo uma cor perfeita para descrever a personagem, pois Hilda, sendo a casula e única filha da casa Holst, cresceu mimada tanto pelo pai como por seu irmão mais velho, tornando-se extremamente preguiçosa. Ainda assim, Hilda se preocupa bastante com seus amigos, além de fazer acessórios artesanais tanto para si como para os seus amigos.

Arte de Selena usada em Fire Emblem Fates

Por outro lado, quando fora anunciada, muitos dos fãs da série ficaram preocupados pela possibilidade de que Hilda seria mais uma tsundere, o que felizmente não foi o caso (dessa vez, o papel de tsundere em Three Houses ficou para Felix). Mas o motivo dessa preocupação tem fundação em dois fatos. O primeiro é a similaridade de design entre Hilda e Severa/Selena, a tsundere de Fire Emblem Awakening e Fates, já que ambas usam cortes de cabelo em similares. E o segundo motivo, é pela cor rosa ser uma cor comum de cabelo para tsunderes animes a fora, já que a cor, pela sua proximidade com o vermelho, pode ser bastante dúbia, por expressar tanto amor e paixão, como ódio e violência, que são os dos temas que envolvem o arquétipo da tsundere. Pelos mesmos motivos, a cor também é comum para os cabelos das yanderes, justamente por essa dualidade.

Ainda, também encontramos a cor rosa nos olhos de Lysithea, que refletem seu apreço por doces, seu medo por fantasmas e outras atividades que são consideradas infantil pela maioria das pessoas. Algo que Lysithea acaba não conseguindo esconder muito bem, apesar do seu esforço.

Por fim, a última cor que nos resta para essa análise é muitas vezes nem sequer considerado uma cor, mas a ausência de luz. Além do que já citei quando analisei as cores do design de Byleth, preto é uma cor que exprime força, poder, intimidação e segredo. A cor perfeita para representar Balthus, auto proclamado King of Grappling, porque, além dele ser forte fisicamente, também é honesto, direto, sincero, coloca seus companheiros como prioridade, além de ter um forte senso de honra, e ser muito leal, diferente é Yuri. Isso nem mencionar o fato de que Balthus é alguém que se esconde de sua família, principalmente de sua madrasta, com o objetivo de proteger sua mãe.

Olá prof sn… Digo, Hubert.

Também bastante intimidador, Hubert incorpora todos os aspectos negativos que a cor preta carrega consigo. Sendo impossível não associá-lo com a figura de um vilão, Hubert faz questão de fortalecer essa imagem através de sua fala suave e do tom traiçoeiro em sua voz, o que é apenas reforçado pela cor dos seus olhos, por lembrar os de uma cobra. Sendo a sombra de Edelgard e seu mais fiel vassalo desde os seis anos de idade, o personagem é capaz de tudo para trazer sucesso e benefício para a futura imperatriz, até mesmo ameaçando matar Byleth e outros aliados da Black Eagles casos eles deixassem de serem úteis para Edelgard. Em vários sentidos, a relação de Hubert para Edelgard é bem parecida com o modo como Dedue encara Dimitri, sendo verdade para ambos os personagens que sua vida vale menos que a de seu lorde.

Ainda que nem todo personagem que vista preto, ou que seja representado pela cor, seja um vilão, é impossível desassociá-la com a vilania. Afinal de contas, ela é a cor que representa a morte, a escuridão, o sombrio e o maligno. Mas se você consome muitos animes ou jogos japoneses deve ter percebido que nem todo o vilão é um ser representante das trevas. É bem provável que você já tenha notado, ou que tenha em mente, um ou outro caso de vilão que seja associado a cor branca, como no caso de Three Houses é Edelgard (ou Immaculate One na rota em que o jogador se opõem a igreja) e Those Who Slither in the Dark (Aqueles que rastejam na escuridão, nome dado por Hubert para os Agarthans), ou que estejam fortemente ligados com o divino ou com a luz, ou um ideal de pureza. E o motivo para isso pode ser exprimido da seguinte frase: Aqueles que vivem em plena luz podem se tornar tão cegos quanto aqueles que vivem em plena escuridão.

O conceito pode ser difícil de explicar, mas o fato é que não existe bem ou mal puro na natureza. Aqueles que desejam destruir todo o mal podem ser tão destrutivos quanto aqueles que pretendem eliminar o bem. Num mundo imperfeito, impuro e feito a partir de uma variedade de cinzas, a busca pelo branco, pela pureza e pela perfeição está fadada a sua própria destruição. Vilões não são necessariamente aqueles que buscam o mal, ou que sejam malignos por natureza, mais sim aqueles que agem a partir de uma ética distorcida, por um senso de justiça completamente utópico, ou que tenham uma visão corrompida do mundo.

Além disso, vilões tendem a ocupar posições de poder dentro da trama, e como vimos antes, tanto a cor preta como o cor branca são volta e meia considerados como um símbolo de força

É muito difícil, após essa extensa leitura dos designs dos personagens de Three Houses a partir de suas cores, imaginar que não há uma forte intencionalidade nas cores utilizadas, principalmente, nos estudantes das três classes rivais desse último título de Fire Emblem. Ainda assim, é muito difícil dizer até que ponto essa leitura é de fato válida ou mesmo natural, afinal de contas, cada cor trás consigo uma enorme gama de possíveis significados, que não apenas variam drasticamente em cada um dos contextos, como muitas vezes são incompatíveis entre si, abstratos, completamente vagos e comuns a cores inteiramente diferentes. Por isso, levantar possíveis significados ou intenções por trás das cores usadas no design de um personagem pode se tornar uma leitura arbitrária e sujeita às mais mirabolantes interpretações. Ainda que eu tenha fugido ao máximo disso, não há como afastar o sentimento de estar lendo muito além do que realmente está presente nesse design.

Além disso, não dá para finalizar esse texto sem relembrar o fato de que as cores são apenas uma das milhares de ferramentes possíveis que um designer tem para conceber seus personagens. Que pode ser utilizada sem que o criador de tais personagens tenha a intenção, já que os significados por trás das cores provêm de associações intuitivas e inconscientes (é natural dar cores quentes para personagens de personalidades quentes, por exemplo), ou sem sequer utilizada por um autor. De forma que a leitura dessas cores, apesar de ser uma atividade que permita uma ampliação de significados dentro de um dado contexto, seja muitas vezes improdutiva.

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Marcelo Hagemann Dos Santos
Marcelo Hagemann Dos Santos

Written by Marcelo Hagemann Dos Santos

Rapaz de humor duvidoso que entrou essa de escrever sobre animes recentemente. Ex-aluno de filosofia e graduado em Letras, mas sempre estudando.

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