Fire Emblem Warriors Three Hopes: O quão corretas foram minhas predições?

Marcelo Hagemann Dos Santos
12 min readJul 24, 2022

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A prova da vitória: após concluir uma run, a arma do líder escolhido é adicionada ao menu do jogo.

Passado, agora, quase um mês após o lançamento de Fire Emblem Warriors Three Hopes para o Nintendo Switch, consegui, após dedicar razoavelmente mais do que um pouco de tempo ao jogo todos os dias, terminar as três rotas que o jogo nos oferece, e posso, então, finalmente dizer o quão próximo minhas previsões e expectativas estavam do jogo final. (que você pode ler aqui)

Lembrando que, apesar de ter terminado uma run com cada um dos lordes do jogo, ainda não posso dizer que vi 100% dos diálogos do jogo, pois cada rota possui dois finais diferentes dependendo se você recruta ou não um certo personagem, e há algumas conversas que não ficam disponíveis para o jogador se ele não fizer certas escolhas, e é claro, ainda não maximizei o laço de todos os personagens, o que é requisito para liberar parte das conversas do jogo, mas duvido que o pouco que não vi inclua qualquer coisa que invalide algum ponto desse texto.

Dito isso, cabe ressaltar, antes de listarmos o que acertei e o que errei, que, apesar de não ter previsto tudo, aquilo que não atingiu às minhas expectativas diminui muito pouco do jogo, que superou em muito o que eu esperava dele, sendo um produto tão bem polido, divertido e dinâmico que eu recomendaria facilmente para qualquer dono do Switch que tem interesse por Musou ou pelas temáticas de Fire Emblem. Ao ponto de, por outro lado, criar uma certa inveja com Three Houses, pelo primeiro jogo não possuir o mesmo nível de polimento que esse, supostamente, sprinoff recebeu.

E se você quiser ver como foi acompanhar o marketing do jogo nas semanas antes do lançamento, tenho outro texto em que fui numerando aquilo que batia, ou não, com a minha listinha de desejos conforme fomos recebendo mais informações sobre ele.

O que faltou?

Começando pela lista mais curta, a primeira das minhas previsões que não foram corretas é a de que todos os personagens que eram jogáveis em Three Houses seriam também jogáveis em Three Hopes. Chegamos muito perto disso. Os únicos personagens que não são jogáveis também em Three Hopes são Alois, Hanneman, Cyril, Gilbert e Anna, uma seleção que não é, nem de perto, de personagens particularmente populares dentre o elenco, e apesar de não serem jogáveis, eles continuam presentes na história e estão presente nas batalhas como qualquer outro NPC, às vezes como aliados e outras como inimigos.

Em contrapartida, Three Hopes recebeu uma quantidade significativa de personagens que não eram jogáveis até então, num total de nove personagens incluindo o protagonista. O que acaba sendo uma boa troca, mas ainda assim é um ponto que eu errei. Também vale ressaltar que, tanto Monica como Jeralt estão entre os personagens novos jogáveis, o que eu apontei como boas opções de personagens a serem adicionados ao jogo.

Outros dois pontos que se afastaram das minhas expectativas estão relacionados ao fato da narrativa do jogo estar estruturada de maneira parecida como é em Three Houses. Isso é, o jogo é dividido em três rodas e cada rota está associada a um líder sendo que esse líder, junto de alguns outros personagens, não se junta ao seu elenco fora de sua própria rota. O que significa que os três líderes não possuem suportes entre si.

Parcialmente por conta disso, a faca que Edelgard carrega consigo em Three Houses, e que é mencionada em alguns poucos momentos do primeiro jogo, acabou sendo deixada de lado em Three Hopes, apesar de não ter sumido completamente, pois Edelgard a menciona em apenas uma de suas falas nas expedições (até onde consigo me lembrar). O que acaba sendo um pouco estranho, pois não há muito impedimento para ela ser mencionada, e até um desperdício de oportunidade não desenvolver mais a fundo a sua existência, pois essa faca é um elemento que carrega muita simbologia…

Pontos Controversos

Dado ao número de expectativas que eu tinha sobre o jogo, é natural que algumas delas não tenham sido completamente atendidas, mas que, ao mesmo tempo, não há como dizer que elas foram completamente ignoradas pelos criadores do jogo.

Um exemplo em que isso fica bastante claro é como o jogo tratou o sistema de classe do jogo, e como isso se relaciona ao estilo de luta de cada personagem.

Não há como negar que o sistema de classes é bastante flexível em Three Hopes, com qualquer personagem sendo capaz de obter qualquer uma das classes, desde de que, é claro, a classe não seja exclusiva de algum personagem ou apenas disponível para personagens de um determinado gênero, como é o caso de Dark Bishop, Gremory, War Master e Falcon Knight.

Entretanto, isso não muda o fato de que cada classe limita que tipo de arma o personagem é capaz de usar naquela classe, ou seja, caso queira usar espada o personagem deve estar em uma classe que permita o uso de espadas, se quiser usar uma lança deve estar em uma que permita o uso de lanças, e assim em diante… o que por si só não é uma escolha ruim, e não é algo que sinto falta ou que acho que deveriam terem feito de maneira diferente, pois foi decidido que cada classe teria um estilo de luta específico, e isso implica no uso de um tipo de arma específico. Mas isso acaba criando um problema, que se relaciona ao próximo ponto: as Gauntlets.

Gauntlets estão no jogo, não há como negar nem como colocar isso em dúvida. É um fato e ponto final. Entretanto, há apenas três classes em Three Houses pensadas com o uso das Gauntlets em mente, quatro se contarmos Fighter, uma em cada nível de especialização diferente, e todas elas são classes exclusivas aos personagens masculinos. O que significa que, em Three Hopes, personagens femininas não possuem acesso a nenhum estilo de luta que envolva esse tipo de arma fora da classe Fighter, que é uma classe inicial e não seria uma escolha natural de qualquer jogador que não queira se limitar de maneira proposital, como forma de desafio. O que é um dos poucos pontos negativos do jogo, em minha opinião.

Quando ao fãservice do jogo, esse é um ponto complicado de se analisar porque, como disse no texto anterior, fãservice pode ser interpretado como um leque amplo de coisas, e o próprio fato de recebermos esse jogo pode ser visto como uma forma de fãservice. Dito isso, não há como negar que, em termos de sexualização dos personagens, Three Hopes não é muito diferente de Three Houses. Pode-se argumentar que alguns dos novos designs são mais sexualizados do que os anteriores, mas não há nenhum exemplo de um design que, se posto no jogo anterior, pareceria deslocado por ser muito sensual…

De resto, o próprio fato do jogo questionar orientação sexual de determinados personagens em alguns dos suportes, e em certos parálogos, é uma forma bastante clara, e bem-vinda, de fãservice.

Foi Tiro e Queda

Bom, e agora, tirando esses, o quê?, seis pontos?, tudo o que eu desejei para o jogo virou realidade?

Sim, basicamente isso.

Olhando para o texto anterior, seguindo na ordem em que está e pulando o que já foi mencionado, temos o seguinte:

Primeiro: muitos personagens que não tinham suportes entre si ganharam em Three Hopes, principalmente os personagens da Ashen Wolfs, que em Three Houses tinham pouquíssimos suportes, mas que agora possuem conversas com personagens de todas as casas. E esses novos suportes nos apresentam a cenários bem diferentes, alguns fazem alusões a conversas do jogo anterior, por vezes reforçando a dinâmica dos personagens, por vezes apresentando um viés completamente novo, mas de qualquer forma os novos suportes se relacionam bem melhor com a história, sendo melhor contextualizados nessa nova trama.

Segundo ponto, quanto aos monstros gigantes, eles definitivamente não são meras esponjas de dano como no primeiro Fire Emblem Warriors, e enfrentá-los requer o uso do tipo correto de armas. Ainda se poderia argumentar que a possibilidade de “soltar” um ataque especial atrás do outro até acabar com a vida desses monstros ainda é uma estratégia possível, mas não é tão viável como anteriormente, nem a mais natural ou eficiente.

Enfrentar esses monstros requer escolher os personagens com as armas certas para quebrar suas barreiras, o que leva o jogador a reposicionar todos os seus personagens, e de preferir uma equipe com uma maior variedade de armas, magias e ataques elementais, para estar pronto para enfrentar tais inimigos. Além disso, o próprio jogo recompensa o jogador por quebrar essas barreiras, dando a eles itens que são uteis para melhorar suas armas, algo que não acontece se o jogador apenas soltar um especial atrás do outro.

Terceiro, poder é o que não falta nesse jogo. Temos, além dos Warrior ataque e da possibilidade de ficar Awakening, Combat Arts e Magias que podem neutralizar vários oponentes de uma vez só se utilizados de maneira correta, além de ações especiais de classe que praticamente definem o modo de lutar de cada uma delas. Sem falar que as próprias habilidades que cada personagem possui naturalmente, e aquelas que eles podem aprender ao dominar uma classe, dão novas oportunidades de ataque e incrementam certos atributos.

Quarto, jogar defensivamente, reagindo aos ataques oponentes, é incentivado pelo jogo. Quando o jogador se esquiva de um ataque no momento certo, ele recebe uma garantia de ataques críticos por tempo limitado, e se bloquear um ataque da mesma forma há uma quebra na guarda do oponente que o atacou. Além disso, há certas habilidade que incrementam esses bônus, fazendo-os durar por mais tempo, dando pontos de estatística ao personagem, ou diminuindo os pontos dos adversários ao redor. O que realça esse estilo de jogo.

Quinto ponto é que o Weapon Triangle está presente no jogo de uma forma bem interessante. Sendo associados às classes, progredir no sistema de classes significa que escolher lutas em que o Weapon Triangle favorece o jogador é cada vez mais fundamental para garantir vitórias rápidas e conseguir uma boa pontuação no final da fase.

E não apenas temos o clássico Espada vs Lança vs Machado, como Arcos, Gauntlets e Tomos compõem o seu próprio triangulo de efetividade.

Sexto, a variedade de armas nesse jogo não decepciona e, como eu queria, o design usado em Three Houses foi mantido em Three Hopes. Há apenas algumas poucas armas adicionadas em relação ao jogo anterior: relíquias, armas sagradas e uma variedade de tomos, já que eles não eram um tipo de arma até então.

Se eu tivesse que apontar uma reclamação, porém, seria o fato de que a lança chamada “Arrow of Indra” foi rebaixada de uma arma única, só obtida no parálogo de Hubert, para uma arma comum. A mudança foi necessária para que houvesse uma arma comum em cada tipo de arma que calcula o dano com base nos pontos de magia, algo necessário para esse jogo. Porém, se eu pudesse escolher colocaria outra lança mágica no lugar dela (motivo de eu mencionar a shockstick nos textos anteriores) e manteria a Arrow of Indra como uma arma única mágica. Mas esse é um ponto que foge das minhas previsões originais.

Sétimo, parálogos não só estão muito bem feitos nesse jogo, como personagens protagonizam mais do que apenas um cada, trazendo mais interações entre os personagens e é uma das coisas que ajuda a expandir a lore do jogo para além do conflito central.

Oitavo e último ponto parte da premissa de que o jogo teria uma rota única, ou que as três rotas se uniriam de alguma forma, e que, se isso acontecesse, o meu desejo é que o jogo construísse uma justificativa forte para que a história não terminasse de uma maneira trágica como no primeiro jogo, se, e somente se, terminasse em um final feliz.

Essa justificativa existe, e é apresentada logo nos primeiros capítulos, conforme visto já na demo do jogo. Ainda assim, não há uma rota única no jogo, nem mesmo as rotas convergem entre si, e, apesar do final do jogo não ser tão trágico como o anterior, o elemento da tragédia continua presente, do começo ao fim, em cada morte de personagem. A guerra não é algo bonito, nem mesmo algo a ser celebrado, e o jogo faz questão de nos lembrar disso sempre que tem a oportunidade. Ela trás a morte, fome, o caos, destrói territórios, faz de amigos inimigos.

Em outras palavras, ainda que o jogo construa uma narrativa diferente e a história tome outros rumos, os temas explorados e a direção geral que ela toma ainda é a mesma. Não negando o que foi estabelecido no jogo anterior, mas expandido suas ideias.

DLC, será que rola?

Com tudo o que foi exposto aqui é fácil perceber que Fire Emblem Warriors Three Hopes entrega muitas das expectativas que se tinha sobre o jogo, chegando muito perto de atingir todas elas, sendo pequenos os pontos em que o jogo realmente deixa a desejar, e tudo o que há no jogo o tornam excelente. É verdadeiramente uma experiência completa.

E é justamente por ser uma experiência completa que a pergunta de quais conteúdos poderiam ser adicionados ao jogo como forma de DLC se torna verdadeiramente válida. Afinal, se um jogo trás uma experiência incompleta e que não satisfaz o jogador, trazer mais conteúdo ao jogo passa ser um compromisso quase que moral ao jogador que teve suas expectativas traídas pelo desenvolvedor. Fazer uma lista de possíveis conteúdos para uma DLC para um jogo incompleto é o mesmo que listar a incompletude do jogo.

Isso posto, podemos dizer que adicionar os personagens de Three Houses não jogáveis em Three Hopes ao leque de personagens jogáveis não seria uma boa DLC, pois são tecnicamente conteúdo faltante no jogo, ainda que não façam muita falta… e também por não fazerem tanta falta é que não fariam um DLC muito atrativo por si só.

Se, e apenas se, os desenvolvedores quiserem disponibilizar esses personagens ao jogador, que o façam por um update gratuito, ou que o distribuam junto de outro conteúdo que por si só dê um bom DLC.

Mas o quê poderia ser esse conteúdo?

Bom, o final do jogo não é o final definitivo do conflito, diferente de em Three Houses, Fódlan não termina unificada por um dos líderes de casa. O que dá espaço para mais capítulos serem adicionados nessa história, incluindo um novo centro para o conflito e novos parálogos.

Porém, ainda que haja uma brecha para que a história continue, não é correto afirmar necessariamente que essa era a intenção quando não se decidiu por um final em que apenas um dos líderes saísse vitorioso.

Outra opção seria a de adicionar uma nova campanha, talvez, mas não necessariamente, uma quarta rota em que Shez se alia a igreja, a Jeralt ou mesmo aos Ashen Wolfs. Também poderia ser algo como a própria DLC de Three Hopes, em que exploramos uma história paralela ao conflito principal e não necessariamente canônica em relação ao jogo principal.

Ainda, nem precisaria ser uma campanha com história. Poderia ser um modo livre, como os mapas do primeiro Fire Emblem Warriors ou os de Hyrule Warriors, com paródias de outros jogos da série.

Também poderiam adicionar novas classes, em particular as 3 classes da DLC de Three Houses que não estão disponíveis em Three Hopes (War Monk, Dark Flier, e Valkyrie) e Hero, que poderia bem ser uma versão melhorada da classe inicial especializada no uso de espadas. Além de outras classes tradicionais da série que poderiam adicionar novas habilidades e, principalmente, novos estilos de luta: Dentre eles um que permitissem o uso de Gauntlets por personagens femininas.

War Monk poderia muito bem ser essa classe voltada para o uso de Gauntlets, entretanto, acho mais interessante que ela fosse uma contraparte da classe Warrior, uma classe que usa machados e que pode usar magia, algo como boa parte das classes de nível Mestre, e que outra classe servisse o papel de permitir o uso de Gauntlets por personagens femininos.

Por fim, além de armas, acessórios, personagens novos e de roupas alternativas para os já incluídos no jogo, um DLC poderia expandir as instalações do acampamento, oferecendo, por exemplo, novas receitas para a cozinha — que trouxesse bônus diferentes, como maior ganho de experiência e ouro por batalha, bônus de dano e melhora nas qualidade das armas recebidas nas batalhas — , uma melhoria ao ferreiro que permitisse transferir atributos de uma arma para a outra, ou ainda a possibilidade de ensinar novas perks aos personagens pelo instrutor tático.

De qualquer forma, há sempre a possibilidade desse jogo não receber nem mesmo pequenos updates gratuitos. Como disse antes, o jogo oferece uma experiência completa ao jogador, e é fácil visualizar alguém saindo plenamente satisfeito com o quê ele oferece. E isso, se vai ter ou não DLC, é algo que só saberemos no próximo Nintendo Direct, seja lá quando tiver um.

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Marcelo Hagemann Dos Santos
Marcelo Hagemann Dos Santos

Written by Marcelo Hagemann Dos Santos

Rapaz de humor duvidoso que entrou essa de escrever sobre animes recentemente. Ex-aluno de filosofia e graduado em Letras, mas sempre estudando.

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