A pior decisão da GameFreak

Marcelo Hagemann Dos Santos
7 min readJun 18, 2019

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Utilizando o filtro de campanha de Barack Obama, a hastag “Bring Back National Dex” busca evidenciar o descontentamento dos fãs através do humor.

Caso você já conheça a imagem-capa desse mísero texto você também já deve estar por dentro das notícias a respeito desse episódio. Mas, se não for esse o seu caso, permita-me fazer um resumo dessa situação;

Nessa última E3, mais especificamente após encerrado do já tradicional Nintendo Direct do dia 11 de junho, recebemos as primeiras imagens oficias de gameplay dos mais novos jogos da série principal de Pokémon — Pokemon Sword e Pokemon Shield — durante o encontro com os desenvolvedores principais da série, Junichi Masuda e Shigeru Ohmori, na transmissão oficial da Nintendo que cobre o evento, a Nintendo Treehouse.

Durante esse encontro, Masuda, entre as perguntas dos entrevistadores da Treehouse, menciona que, a partir de Sword e Shield, haverá uma mudança na filosofia da série, e que daqui em diante não será possível transferir todos os pokemon(s) dos jogos antigos para os jogos novos. Ou seja, apenas as espécies de pokemon que estiverem registradas no catálogo daquele jogo especifico poderão ser transferidas a partir do aplicativo Pokemon Home.

A justificativa para essa mudança, que foi mais explicada em entrevista para a Famitsu, é que, dado ao crescente números de pokemons e suas inúmeras formas e variantes, assim seria possível gastar mais do tempo de desenvolvimento para melhorar:

  • As animações e os respectivos modelos de cada pokemon presente nos jogos;
  • A quantidade de conteúdo presente em cada título da série;
  • A qualidade gráfica dos jogos;
  • E o balanceamento entre os antigos e novos pokemons, habilidade e movimentos.

Dito isso, é importante agora esclarecer alguns pontos:

Primeiro, essa mudança de filosofia na série não é algo definitivo. Se os desenvolvedores, a GameFreak, a Pokemon Company ou mesmo a própria Nintendo decidirem que reverter essa mudança é o melhor para série isso será feito. Além disso, o próprio Masuda já mencionou que adicionar os pokemons não incluídos inicialmente no jogo pós-lançamento é algo incerto, mas ainda é uma possibilidade.

Segundo, isso não significa que todas as espécies que podem ser transferidas para Sword e Shield via Pokemon Home já são passíveis de captura dentro desses jogos. É bem possível que uma ou outra espécie de pokemon esteja catalogada na pokedex do jogo, mas não apareça em nenhum lugar da região.

Terceiro, não apenas fãs ocidentais estão vocalizando o seu descontamento sobre a nova filosofia. Fãs japoneses da série também reclamaram muito no twitter após esse conturbado anúncio, e muitos deles compartilham das mesmas reclamações que os fãs ocidentais.

Quarto, por mais justificada que seja a reclamação em cima dessa mudança, isso não é razão para atacar diretamente os desenvolvedores da série, em particular os que pertencem a GameFreak, ou faltar com respeito para essas pessoas. Por mais que sejam uma minoria vocal fazendo esse tipo de coisa, não é possível apoiar quem ameaça a integridade física de outra pessoa por conta de uma decisão a cerca da produção de um jogo.

E quinto, por mais que não ser capaz de transferir todos os seus velhos amigos para os jogos novos seja algo objetivamente ruim, ou pelo menos um ponto negativo ou não positivo para todos os jogadores, não é exclusivamente por conta dessa carência que os fãs estão tão descontentes após esse anuncio.

Afinal de contas, para a grande maioria dos jogadores essa mudança não vai ter qualquer impacto no gameplay nas primeiras horas do jogo. Já que quem compra os jogos novos o faz inicialmente para explorar a nova região, conhecer os novos pokemons, e transpor os inúmeros desafios impostos pelo jogo com as ferramentas (pokemons) que lhe são disponíveis. E os pokemons antigos não são necessários para nada disso.

Então, por que as pessoas estão tão desapontadas (para dizer o mínimo) com a GameFreak por essa decisão?

Bom, vamos por partes.

Primeira forma de enxergar o motivo de tamanha insatisfação é olhando para a própria justificativa desse corte. Há ali uma promessa bastante clara de que, com menos pokemons presentes no jogo, há a possibilidade de entregar um produto de maior qualidade para os jogadores.

Entretanto, com tudo que nos foi mostrado até agora, há poucos sinais de que essa qualidade será entregue para os jogadores, mesmo com vários pokemons indisponíveis no jogo final.

Sim, é legal ver que os personagens, em particular os protagonistas, estão mais expressivos, e que, apesar de não termos uma confirmação nesse momento, possivelmente esse é o primeiro jogo da série principal a ter falas dubladas. Mas, considerando a capacidade do Switch, o tamanho que é a franquia Pokémon e o fato de que os jogos são o produto principal— e o mais importante — dessa série, nessa melhora é um mínimo que a GameFreak deve nos oferecer.

Basta olhar as reclamações, ou mesmo piadas e memes, mais constantes para ver que a promessa não está sendo cumprida.

As reclamações vão de desde a qualidade gráfica do cenário não estarem a par de outros jogos de mundo do Switch, como The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Super Mario Odyssey e o recém anunciado para plataforma Dragon Quest XI. Até as animações de certos pokemons, em particular Wingull que na Wild Area parece mais flutuar e mover-se como um drone do que como uma gaivota que plana no ar (vídeo). Sem mencionar as próprias animações dos ataques que pouco se diferenciam das já presentes no 3DS, ou do fato de que vários modelos parecem demorar mais do que deveriam para aparecer na tela (vídeo) indicando que o jogo está mau otimizado.

A própria baixa quantidade novos pokemons anunciados é algo que deixa os fãs mais apreensivos, e uma das muitas inconsistências dessa justificativa. Afinal, temos não muito mais do que os iniciais, dois legendários, e outras cinco linhas evolutivas novas anunciadas para esses jogos. Algo que dá a impressão de que há muito pouco verdadeiramente novo nesses jogos. (Algo que, espero, seja apenas uma impressão)

Além disso, não temos nenhum indicativo de que os modelos usados pelos pokemons esse jogo não sejam os mesmos usando em Sun e Moon, ou mesmo X e Y. O que é até justo, já que, apesar de serem usados em uma plataforma de poder gráfico inferior ao Switch, os modelos desses jogos são sim de qualidade, e precisariam apenas de uma atualização de texturas para serem utilizados nos jogos novos.

É claro, tudo o que vimos durante essa E3 veio a partir de uma versão inacabada, não totalmente polida, do jogo. E, portanto, tudo isso é passível de alteração até o real lançamento de Sword e Shield. Mas, de novo, o que realmente importa aqui é o que não estamos vendo. Uma promessa sem nenhum indício de que ela será cumprida.

A segunda fonte de insatisfação dos fãs está no fato de que essa não é a primeira vez que a GameFreak deixa de cumprir com as suas promessas, ou corta parte de um conteúdo de um jogo.

Para citar um caso (relativamente) recente, quando Omega Ruby e Alpha Sapphire, remakes dos pokemons de GBA, foram lançados para 3DS muitos dos fãs ficaram bastante decepcionados pela falta da Battle Frontier nesses jogos, algo que era apontado como um dos principais atrativos do pós-game nos jogos originais.

Ao mesmo tempo, em uma entrevista exclusiva para o site italiano Pokemon Millennium, Masuda afirmou que essa feature não foi incluída nos remakes porque apenas uma pequena parcela dos jogadores iriam apreciar a sua inclusão, e que o público de hoje se satisfaz de um jogo bem mais cedo do que antigamente, e que um desafio que demande tanto do jogador seria rapidamente deixado de lado. Algo que, se você leu o meu texto sobre personagens OP, sabe que eu discordo plenamente.

Com isso podemos observar que parte do descontamento dos fãs por essa mudança de filosofia da série provêm de uma espécie de cansado por parte dos fãs de ver, jogo após jogo, promessas sendo feitas, e hype sendo criado, sem que essas expectativas sejam cumpridas.

Contudo, existe mais um fator que se torna combustível para a insatisfação por parte dos fãs. Que é justamente o tamanho de amor que essa franquia possui.

Não há como negar. Tenha sido na infância com os animes, os jogos, as cartas ou com o recém lançado, e estranhamente maravilhoso, Detetive Pikachu, Pokémon GO… o fato é que Pokémon faz ou fez parte de nossas vidas e está presente massivamente na cultura pop, principalmente na cultura de internet. E nada mais natural para fãs de uma franquia desse calibre que o desejo de que aqueles responsáveis pela criação dos produtos da série tenham o mesmo carinho e devoção por ela que os próprios fãs.

E mais ainda, como já mencionei antes, Pokémon é uma franquia gigantesca, é uma das maiores séries de vídeo-games de todos os tempos, um dos principais jogos do Switch esse ano (competindo com Super Mario Maker 2 e Fire Emblem Three Houses), e provavelmente um dos produtos mais rentáveis da atualidade. É muito difícil imaginar que uma empresa que tenha algo tão poderoso em mãos seja incapaz de formar uma dedicada a portar os pokemons antigos para os jogos novos.

Com isso nem digo que a GameFreak deve inserir os pokemons antigos em Sword e Shield até o seu lançamento, até porque Pokémon Home só será disponibilizado em 2020, e até lá não será possível transferir qualquer pokémon dos jogos anteriores para Sword e Shield.

E, diferente de Animal Crossing: New Horizons, que é um produto mais independente, adiar o lançamento desse título não seria tão benéfico quanto maléfico. Afinal, como carro chefe da franquia, muita coisa— o anime, o jogo de carta, e outras formas de merchandising — dependem do lançamento desses jogos para seguirem em frente. Portanto, o atraso de seu lançamento é o atraso para toda a franquia, e só deve ser feito quando estritamente necessário, o que não é o caso.

Para encerrar quero dizer que, independente de como a GameFreak lide com essa questão, de se os pokemons antigos serão inclusos de uma forma ou de outra, se os gráficos serão refinados até o lançamento, a maioria das pessoas que pretendiam comprar os jogos antes desse episódio ainda vão comprá-los.

Porque, no final das contas, por mais que os jogos não atinjam todo o seu potencial, Pokémon ainda é Pokémon. Os jogos são sempre divertidos, há ainda muito a ser explorado, muito a ser testado e experimentado em cada nova aventura.

O que torna essa uma alegria muito triste.

Wooloo agradece por ter lido até aqui. E tenha um bom dia.

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Marcelo Hagemann Dos Santos
Marcelo Hagemann Dos Santos

Written by Marcelo Hagemann Dos Santos

Rapaz de humor duvidoso que entrou essa de escrever sobre animes recentemente. Ex-aluno de filosofia e graduado em Letras, mas sempre estudando.

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